16/08/2009

A EMERGÊNCIA DE UM “ESTATUTO ÉTICO” PARA AS COMUNICAÇÕES


Algumas pessoas já me questionaram o fato de sempre que eu escrevo sobre política me referir à grande mídia como peça central do tabuleiro eleitoral. A resposta é simples, é porque ela é isso mesmo! Nenhuma instituição tem uma presença tão forte nos territórios nacionais e até internacionais (vide a CNN) como as corporações midiáticas.

A imprensa corporativa se consolidou, especialmente a televisão, como a principal formadora/manipuladora de opinião no mundo. Por causa dela, principalmente, bolsas de valores caem ou sobem, preços de comodites avançam ou recuam, políticos inexpressivos e demagogos, são “ungidos” a “bastiões da moralidade”, ao mesmo tempo em que outros nos quais ainda viceja o compromisso com a coletividade, são apresentados como atrasados e coniventes com a corrupção.

Se esse poder estivesse a serviço da sociedade, seria mais um fator para o fortalecimento da democracia, contudo, é justamente o contrário. A busca acrítica do “furo”, a disputa aética por audiência e a manipulação grosseira dos fatos leva à banalização da violência, à relativização dos valores morais, valores esses que alicerçam as relações dentro de sociedades que se pretendam civilizadas. São os “Reality shows”, os programas policiais, o noticiário econômico e político.

Recentemente, as duas principais redes televisivas brasileiras (Globo e Recorde) resolveram declarar uma guerra entre si, o que, contraditoriamente, tem desnudado para a sociedade suas verdadeiras fisionomias. A rede globo resolveu desencavar os diversos processos judiciais cujo alvo é o Proprietário da sua arqui-rival, Pastor Edir Macedo, relembrando a população brasileira, o caráter manipulador e criminoso do mesmo. Por sua vez, a Recorde contra-atracou, apresentando matérias que demonstram a relação da TV dos Marinhos com a ditadura, suas artimanhas para captar ilegalmente dinheiro público e a manipulação descarada do noticiário político.

Esses estados de coisas colocam, como inadiável, a discussão sobre um novo marco regulatório para a comunicação social em nosso país, nesse sentido, depois de muita pressão da sociedade civil organizada, o Governo resolveu encaminhar a proposta que institui a Conferência Nacional de Comunicação (CONFECOM) que terá a função de propor mudanças na concessão de canais de TV, estabelecer novas regras para o exercício do jornalismo (código de ética, por exemplo), regulamentação de rádios e TVs comunitárias, além de propor os parâmetros do marco regulatório da mídia digital, entre outros. A conferência Nacional de Comunicação está marcada para a primeira semana de dezembro. Participarão os representantes da Sociedade civil, do Governo e dos empresários do setor, eleitos nas conferências estaduais.

Tão importante quanto à reforma política é a reforma das comunicações, sem isso, a sociedade brasileira terá que continuar a conviver com um “4º Poder” que se coloca “acima do bem e do mal”, cujo principal interesse além de lucrar, é se perpetuar com instrumento legitimador dos interesses de uma minúscula elite que caminha de costas para os interesses da maioria da população.

WANDERSON MENDES

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