A senadora Marina Silva já se desligou do PT. Em carta enviada na manhã desta quarta-feira, 19, ao presidente do partido, Ricardo Berzoini, a ex-seringueira e ex-ministra do Meio Ambiente comunicou a decisão:
- Hoje lhe comunico minha decisão de deixar o Partido dos Trabalhadores. É uma decisão que exigiu de mim coragem para sair daquela que foi até agora a minha casa política e pela qual tenho tanto respeito, mas estou certa de que o faço numa inflexão necessária à coerência com o que acredito ser necessário alcançar como novo patamar de conquistas para os brasileiros e para a humanidade. Tenho certeza de que enfrentarei muitas dificuldades, mas a busca do novo, mesmo quando cercada de cuidados para não desconstituir os avanços a duras penas alcançados, nunca é isenta de riscos.
LULA DESEJA SORTE À MARINA
"Todo mundo sabe que a minha relação com a Marina é uma relação superior à relação partidária. Conheço a Marina há 30 anos, não são 30 dias - disse Lula, em entrevista a emissoras de rádio do Rio Grande do Norte. - Se a pessoa quer Se ela quis fazer uma opção e não me procurou para conversar é porque ela estava com a opção feita. Acho que, da mesma forma que veio para o PT, ela pode sair do PT. Saiu porque quis sair e espero que ela tenha sorte e que tudo que ela planeje dê certosair de um partido, não está confortável, é um direito da pessoa - disse Lula".
Não queria tratar desse assunto, que já considero superado. Mas tenho ainda duas questões a tratar no desligamento de Marina Silva do PT. A primeira considera o perfil da Senadora e a sua longa trajetória de lutas antes e depois de filiar-se ao PT. De lá para cá, Marina com certeza não mudou de ideais. Seu pensamento aprimorou-se, aprofundou-se, ganhou dimensões globais, mas os ideais permanecem iguais.
Essa Marina não se desligou do seu PT ideal – desligou-se do PT real, um partido, apesar de tudo, mais chegado a ela do que os partidos da Oposição. Não é à toa que Ricardo Berzoini, Presidente Nacional do PT, fez questão de declarar que o partido não pretende cobrar a vaga de Senadora.
Além de não ter conflitos de fundo com Marina, o PT vê na provável candidata à Presidência uma aliada de peso. Ele talvez tenha concluído que a entrada em cena de sua candidatura talvez possa prejudicar bem mais a Oposição. A outra questão trata da compreensão do pragmatismo, que é intrínseca à própria questão da política. É com pragmatismo que a política pode garantir ação contra o imobilismo dogmático (recusa absoluta ao pragmatismo) ou oportunista (pragmatismo extremado). Garantir a dose certa (se é que existe) de pragmatismo é fazer a boa política. Marina saiu do PT porque não aceitou o que seria excesso de pragmatismo do PT. Mas, com algo de contraditório, está exigindo, antes de se filiar, um certo pragmatismo do PV. Pelo menos é o que podemos concluir com as declarações do Vice-Presidente da Executiva Nacional do PV, Alfredo Sirkis, sobre a inclusão nos estatutos do partido de uma "cláusula de consciência", que permitirá aos filiados se absterem em relação a posições do partido que possam contrariar convicções religiosas.
Terá sido uma decisão tomada unicamente em função de Marina Silva, que é evangélica. Mas nenhum partido, por princípio, pode ter cláusulas que individualizem as decisões partidárias. É um pragmatismo que leva à própria negação do conceito de partido. Por tudo isso pergunto - afinal, para onde saiu Marina Silva?
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