O antigo modelo de militância política não existe mais. Agora os partidos lançam às ruas batalhões remunerados
Alan Rodrigues
INFANTARIA
Partidários do PT, PV e PSDB na guerra pelos votos
Erra, no entanto, quem apostar que a militância acabou."O que acon tece é uma acomodação, não um retrocesso" sustenta a mestre em ciência política, Hingridy Fassarella, da Universidade do Espírito Santo, que estuda o comportamento dos jovens e a militância política. "O gran de empenho dos militantes aparece pontualmente em momentos em que a sociedade espera mudanças radicais", diz ela. Não é, obviamente, o que ocorre na atual eleição. Os candidatos que disputam a Presidência da República têm discursos semelhantes e ideologias bastante parecidas, incapazes, portanto, de gerar esse tipo de expectativa.
A profissionalização da militância, antes uma grave ofensa política, hoje é aceita como um fato natural. Nos meios partidários, os militantes costumam até ser classificados em quatro tipos: os "D.A.S.", funcionários públicos comissionados; os "históricos"; os "meninos"; e os "diaristas". Os primeiros são os antigos militantes que trocaram sindicatos, movimentos sociais e universidades por empregos públicos e salários estáveis. Eles aparecem em todos os partidos. Já os "históricos" são os remanescentes dos tempos heroicos, carregados de discursos ideológicos. Há anos se dedicam à causa do partido sem receber um centavo pelo trabalho. Também conhecidos como a turma de 68, de certo modo, se assemelham aos "meninos", membros da "juventude partidária". Os "meninos", pessoas de 15 a 29 anos, juram que vão mudar o mundo no dia seguinte da chegada ao poder. Mas, ao contrário dos "históricos", vários deles recebem ajuda financeira para trabalhar por determinada candidatura.
Havia representantes de todos esses modelos no primeiro grande comício presidencial deste ano, o da candidata Dilma Rousseff (PT), realizado na sexta-feira 16, no Centro do Rio de Janeiro. A maior parte dos "D.A.S." era de funcionários da Petrobras que carregavam faixas defendendo o monopólio do petróleo. Um dos que tomaram chuva para engrossar o apoio à candidata do governo era o presidente da Associação dos Engenheiros da Petrobras (Aepet), Fernando Siqueira. Ele admitiu que não havia na manifestação muitos participantes independentes, atraídos apenas pelo calor do discurso: "A chuva esvaziou um pouco o evento. Além disso, as pessoas estão apáticas com a política, preferindo se manifestar pela internet e pelo Twitter", acredita. Era um quadro bem diferente, reconhece Siqueira, daquele que ele viu na primeira passeata da qual participou, 54 anos atrás.
Rafael de Sousa Tomaz, 17 anos, e Tainá Barreto, 21, que também acompanharam o comício de Dilma, eram típicos representantes da turma dos "meninos". Rafael integra a juventude petista carioca. Diz que participou da manifestação "por motivos ideológicos", mas que não tinha como abrir mão do "incentivo" que o partido lhe proporcionou. Morador de Santa Cruz, na zona oeste da cidade, cerca de 40 quilômetros distante da Cinelândia, Rafael saiu de casa de trem na véspera do evento. "Passei a noite no espaço da Juventude do PT, dormi e lanchei por conta dela", conta. Tainá considera "razoável" receber ajuda para a condução e até para um lanchinho. Como Rafael, ela integra o chamado Movimento Ousadia, que tem como "benemérito", segundo eles, o economista Marcelo Sereno, chefe do gabinete da Casa Civil do governo no tempo em que o titular da pasta era o deputado cassado José Dirceu. "Estamos fazendo uma revolução. Talvez não como alguns queriam, mas estamos transformando o País", diz Alessandra Dadona, 28 anos, da Juventude do PT.
OS MENINOS
Rafael e Tainá vão ao comício com ajuda partidária
RESISTÊNCIA
Alessandra Dadona, do PT, prega uma nova revolução
Divergências e pagamentos à parte, o certo é que partidos e militantes formam uma aliança inseparável. "Não se ganha eleições sem a presença dos militantes", atesta o deputado federal José Genoino, da executiva nacional do PT. O cientista político Fábio Wanderley dos Santos, da Universidade Federal de Minas Gerais, concorda: "A militância faz todo o sentido para o partido", diz ele. Wanderley dos Santos cita a experiência recente da campanha de Barack Oba ma, quando os militantes causaram grande barulho e atuaram de forma inédita na internet.
Também no Brasil a internet vem sendo mais usada pela militância partidária. Mas mesmo nessa área as agremiações nacionais têm dado um toque peculiar: os políticos estão comprando mailings para atingir eleitores. Pagam aos militantes R$ 2 por cada nome com respectivo telefone, endereço fixo e eletrônico que eles conseguirem. Especialistas de marketing que assessoram os partidos calculam que cada lista desses novos bancos de dados pode render 10% de eleitores.
Rendimento e produtividade, por sinal, são ideias fixas dos militantes partidários e das cúpulas das legendas. De olho nas urnas, PSDB, PT e o PV resolveram inovar ainda mais este ano na corrida atrás do voto. Eles adaptaram para a política um conceito vitorioso no meio comercial, conhecido como venda direta. Assim, nos próximos dias, começarão a mandar às ruas, como os vendedores da Avon, militantes que baterão de porta em porta oferecendo o seu produto. Segundo os partidos, é isso que fará a diferença nesta eleição: blim, blom, o candidato chama.
40% dos militantes partidários são jovens, mostra a pesquisa da Universidade Federal do Espírito Santo
Fonte revista Istoé
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