26/01/2009

Qual a novidade da PJMP hoje?


Ao celebrar os trinta anos da PJMP me bateu uma pergunta que o Padre Sabino Gentili fez na décima assembléia que realizamos que teve como local Fortaleza, nos dias 07 a 12 de janeiro de 1996 e que teve como tema: PJMP – Presença no mundo e na Igreja. A pergunta ainda vale para nós hoje: qual a novidade da PJMP?
Lembro que esta assembléia foi muito rica na convivência, na intensidade da espiritualidade, nos estudos e debates e nas reflexões que o assessor provocava em cada um de nós. Quando a assembléia terminou quase a totalidade dos participantes veio a Macau para celebrar os meus dez anos de padre. Foi interessante que por falta de dinheiro se tomou um ônibus até Mossoró e de lá a Macau – mais de 150 Km de estrada – o caminhão da Paróquia foi o transporte que restava. Ao passar no Posto da Polícia Rodoviária, na saída de Mossoró, o caminhão foi preso e o pessoal teve que caminhar a pé um pedaço de estrada enquanto era negociada uma saída para a tensão. Enquanto os(as) jovens caminhavam no asfalto escaldante do oeste potiguar, o caminhão foi multado e liberado numa condição que ninguém mais fosse nele. Ora, não havia outra alternativa. Depois que se perdeu de vista o posto policial todos subiram no caminhão e a viagem foi feita assim.
Qual a novidade da PJMP? Encontrar alternativas para a viagem ser continuada, sem temer o conflito, não se acomodar, enfrentando todo e qualquer aparelho repressor e intransigente, mesmo diante da insegurança que a estrada oferece. Não tem outro jeito para nós se não enfrentar os obstáculos e realizar a festa da partilha, da alegria, do encontro com o diferente, e saborear o fresco e a quentura que o sal provoca em cada um de nós.
Chegando aos trinta anos de história a PJMP precisa não se afastar da sua ousadia original que ao longo dos anos soube fazer. Nos mais diversos caminhões que ficaram e ficam presos, temos que ter a coragem de negociar, dialogar e, se preciso for, furar o bloqueio das intransigências que a dureza da realidade nos impõe, no meio da sociedade e dentro da Igreja.
A festa é que não podemos faltar. É claro que ela exige preparação, organização, desprendimento, sacrifício, sede, fome, resistência para suportar os catabilhos da estrada com a poeira e calor durante dia e o sereno e a insegurança durante a noite. Neste sentido, são muitos e diversos os catabilhos que temos sofrido nos últimos anos. Nossa organização tem sido muito fraca nos eixos de sustentação: Secretaria Nacional, Comissão de Jovens e de Assessores, porém o que tem sustentado tem sido as diversas alternativas que as bases encontram para viver.
A verdade é que não obstante o fracasso da organização nacional a base se mantém animada, forte, alegre, fazendo acontecer a novidade do Evangelho vivenciado no meio popular. São encontros de formação, festivais, cursos, parcerias as mais diversas possíveis, atuação dentro das instâncias pastorais – de acordo com a realidade das dioceses e paróquias, luta no meio do movimento social, tentativa de lograr a eleição nos parlamentos e nas instâncias executivas do poder, etc, etc. Há lugares que o bispo, por exemplo, não quer a PJMP existindo e a juventude do meio popular faz o caminho com a casca permitida e o conteúdo da PJMP. É como se fosse o tempo das catacumbas que estivéssemos a viver, para driblar o Exército Romano. Mas a pergunta ainda não foi respondida totalmente, porque alguém há de questionar: mas as outras pastorais de juventude não fazem assim também?
É, elas fazem assim também, afirmamos!
Em primeiro lugar é bom destacar que fazer pastoral no meio popular com a mentalidade de empobrecidos, ou seja, buscando o despertar da consciência de classe não é coisa fácil de se fazer. A maior novidade da PJMP está aqui. Somos uma pastoral que nos distinguimos pelo despertar da consciência de classe. A luta travada para não fugir desse patamar é permanente e constante. Evangelizar para a PJMP significa enfrentar as contradições da realidade sem ter medo de negociar com os guardas do posto rodoviário como citamos acima, tendo ou não que caminhar um pedaço do asfalto a pé e outro na carroceria do caminhão. O corpo fica dolorido, mas a viagem é feita.
Em segundo lugar, temos clareza que não somos nem melhores e nem piores que os outros. Não somos nem santos nem demônios nesta história. Nem estamos numa guerra de pastorais. Penso que esse tempo passou. Chega disso! Somos e queremos ser companheiros que estamos caminhando e necessitamos de estreitar parcerias com as outras pastorais. Como nos pede os nossos pastores na Conferência de Aparecida, devemos ‘ser discípulos missionários’, ir ao encontro dos jovens do meio popular com abertura para acolher e ser acolhido, aprender e ensinar, misturar luzes e saberes.
Ao lado dos parabéns a todos(as) que fizeram e fazem essa historia acontecer, neste 09 de julho, nos alimentemos da festa e vamos aos sítios e favelas, ruas e bairros, subindo ou descendo morro para continuar com a bandeira do amor defraudada no mais alto dos nossos corações.
Parabéns PJMP!
PJMP: 30 anos de Fé e Luta no meio Popular. Parabéns!

Pe. Antônio Murilo de Paiva
Setor Juventude da Arquidiocese de Natal

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