18/05/2009

A CPI DA PETROBRÁS E A BANALIZAÇÃO DA DESFAÇATEZ


O Globo - 18/05/2009

"Oposição quer investigar até patrocínios na CPI da Petrobras. Lula critica interesse eleitoral"

A oposição também quer investigar na CPI da Petrobras os patrocínios culturais da estatal com indícios de irregularidades. O senador Álvaro Dias (PSDB-PR) vai requerer cópias dos inquéritos abertos pela Policia Federal e das auditorias do Tribunal de Contas da União. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva condenou o uso político-eleitoral e disse que senadores que pediram a CPI "não têm outra coisa para fazer".

O Jornal "O Globo" terminou dando mais uma pista de quais são as verdadeiras motivações do PSDB, ao criar a CPI da Petrobrás. Que, obviamente, o PSDB pretende auferir dividendos eleitorais com as diversas ilações que irão fazer contra a Petrobrás, não se tem a menor dúvida. A dúvida está em qual seriam seus alvos principais.

A CPI das ONGs, por exemplo, tinha como objetivo colocar a seriedade das instituições conveniadas e parceiras do Governo, em "xeque", especialmente aquelas ligadas ao MST, CUT e as, conhecidamente, dirigidas por filiados ao PT, para que depois, a oposição pudesse apresentar projetos que restringissem novos contratos, fragilizando, assim o terceiro setor, onde se encontra boa parte dos ativistas que apóiam o Governo. Parece que essa mesma lógica irá balizar as ações do PSDB e DEM com relação à Petrobrás.

As várias motivações Tucanas

A Petrobrás já investiu, nestes últimos 6 anos, quase 1 bilhão e meio de reais , patrocinando projetos nas áreas de Cultura, Meio-Ambiente e geração de emprego e renda, o que a tornou referência mundial no que diz respeito à responsabilidade social. A oposição teme que este capital social adquirido pela empresa, sobretudo, durante o Governo Lula, possa ser um empecilho ao projeto Demo/Tucano de retomar a Presidência em 2010.

Certamente que os alvos do PSDB irão variar durante a CPI, até porque existem diversos interesses comerciais que permeiam a "empreitada" tucana, mas todos objetivam, basicamente, duas coisas: Fragilizar o Governo Lula e abalar a imagem da Petrobrás, criando as condições para, em um eventual governo tucano, se retome a discussão sobre sua privatização.

Ainda que uma CPI venha a trazer inúmeros prejuízos à Petrobrás e, conseqüentemente, ao País, nesse momento em que a empresa busca recursos e parceiros externos para exploração do "pré-sal", isso não será obstáculo, porque, para nossa oposição conservadora, os interesses maiores da nação devem se submeter a sua lógica eleitoral de disputa do Poder.


Os "dois pesos e duas medidas" do tucanato

Como se sabe, quando o PSDB é Governo, não suporta nem que se pronuncie a palavra "CPI", haja vista a quantidade de pedidos de CPIs engavetadas durante o governo de Geraldo Alkmin (PSDB-SP), em São Paulo. No Governo do Presidente Fernando Henrique, só para citar o setor petrolífero, foram inúmeros os "acidentes", o mais dramático foi o que levou "a pic" a plataforma "P-36", carregando consigo a vida de 11 trabalhadores. Pois bem, mesmo com a perda de vidas humanas, o tucanato e seus aliados do PFL (hoje Democratas), continuaram a se opor a criação de uma CPI para investigar as razões de tantos "incidentes".

Naquela época, havia várias denúncias de que a Petrobrás estava sendo vítima de sabotagem, com o objetivo de abalar a sua imagem para que se justificasse a sua "transferência" para o setor privado. Teoria corroborada pelas denúncias do presidente da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), Luiz Carlos Delben Leite, ao senador Eduardo Suplicy (PT-SP) sobre conseqüências práticas de mudanças na política de compras da Petrobrás durante a gestão do ex-presidente da estatal Joel Rennó.

O exemplo mais recente da ojeriza tucana a CPIs é o do Rio Grande do Sul, onde denúncias de uso de recursos públicos para financiamento de campanhas tucanas são explicitadas pelo Vice-Governador e até por assessores próximos da Governadora Yeda Crusius (PSDB-RS) e mesmo assim, o PSDB "Joga duro" para evitar a abertura de uma CPI para investigar as diversas irregularidades, incluído aí, o suposto assassinato de um assessor do Governo gaúcho que negociava com a Polícia Federal a sua inserção no "Programa de proteção a testemunhas".

Como vemos, essa novela, recheada de cinismo e desfaçatez, está longe de terminar. Já sabemos até o roteiro: A revista Veja faz as sua denúncias especulativas na sexta-feira, no sábado, o Jornal Nacional repercute e, na segunda-feira, a oposição esbraveja. Nesta guerra autodeclarada da oposição midiatizada contra o Governo e, sobretudo, contra os interesses nacionais, haverá, indubitavelmente de fazer muitas vítimas, mas como em toda guerra, a primeira vítima será a verdade, mas o tiro também pode sair pela culatra.


Wanderson Mendes é Cientista Político

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