07/09/2009

JORNALISTA DIZ QUE DISCURSO DE LULA SOBRE PRÉ-SAL É SUA "CARTA - TESTAMENTO"

Em 2004, tive a honra de fazer - em parceria com o brilhante editor Luís Cosme - uma série de reportagens sobre os 50 anos da morte de Getúlio Vargas. Não foi fácil. Eu trabalhava na TV Globo. Em São Paulo ainda por cima. Vargas não tem, propriamente, muitos fãs na emissora da família Marinho. E muito menos em São Paulo.

Apresentei o projeto de 5 matérias especiais para aquele que já foi o mais importante telejornal do país (atenção, copyright Marco Aurélio - http://maureliomello.blogspot.com/). A resposta foi: "esse é um tema muito pesado, não interessa ao jornal".

Não desisti. Mostrei o projeto a meu amigo Luís Cosme, que era editor do telejornal noturno da emissora. Ele comprou a idéia, e convenceu a Ana Paula Padrão - editora-chefe e apresentadora. Ela bancou, mas fez um pedido: em vez de cinco matérias, faríamos três. Já era uma vitória.
Lembro bem que Cosme chegou a me dizer: "Rodrigo, será uma chance histórica, sabe quem vamos ouvir? Leonel Brizola; ele vai falar na Globo sobre o velho Getúlio". Eu não acreditei: "mas, Cosme, Brizola na Globo? A direção não vai deixar". E o Cosme: "bom, isso é com eles; vamos deixar pra eles, pelo menos, o constrangimento de dizer não".

A história se encarregou de resolver o dilema. Brizola morreu no fim de junho de 2004, pouco antes de a série começar a ser gravada.

A primeira reportagem está aqui -

Durante a apuração das reportagens, conversei com historiadores que me ensinaram: "há sérias dúvidas de que a Carta-Testamento de Vargas tenha mesmo sido escrita por Vargas". Mais provável, dizem os estudiosos, é que assessores de Vargas tenham redigido o texto a partir de anotações deixadas pelo presidente que cometera o suicídio.

Pouco importa. Para a história, a Carta-Testamento é a carta de Vargas. Um documento sensacional. Dizem que os irmãos Fidel e Raul Castro liam a Carta-Testamento, quando estavam exilados, preparando-se para voltar a Cuba e inciar a guerrilha. Era um documento a mostrar tamanho do desafio de quem luta pela independência da América Latina.

Penso em tudo isso, ao reler o discurso de Lula no lançamento do pré-sal.
O discurso de Lula é, para mim, tão importante quanto a carta de Vargas. Pelo que diz, pelo que indica, e pelo acerto de contas com a história recente de nosso país.

Vejam só esse trecho:

"Rendo homenagem muito especial, por fim, a todos os que defenderam a Petrobras quando ela foi atacada ao longo de sua história – e ainda hoje – e aos funcionários e petroleiros que se mantiveram de pé quando a empresa passou a ser tratada como uma herança maldita do período jurássico. Benditos amigos e companheiros do dinossauro, que sobreviveu à extinção, deu a volta por cima, mostrou o seu valor. E descobriu o pré-sal – patrimônio da União, riqueza do Brasil e passaporte para o nosso futuro.

Olho para trás e vejo que há algo em comum em todos esses momentos, algo que unifica e dá sentido a essa caminhada, algo que nos trouxe até aqui e ao dia de hoje: é, sinceramente, a capacidade do povo brasileiro de acreditar em si mesmo e no nosso país. Foi em meio à descrença de tantos que querem falar em seu nome... O povo – principalmente ao povo – devemos esse momento atual.

É como se houvesse uma mão invisível – não a do mercado, da qual já falaram tanto, mas outra, bem mais sábia e permanente, a mão do povo – tecendo nosso destino e construindo nosso futuro."

O discurso do pré-sal é a carta-testamento de Lula.

Um testamento escrito em vida.

Lula não precisou dar um tiro no peito para entrar na história.

RODRIGO VIANA-REPÓRTER

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